segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ao som do mar e à luz do céu profundo




Dia 22 de setembro. Dia mundial sem carro.

Cada dia que passa vejo mais e mais bicicletas andando pelas ruas (ou talvez seja apenas meu olhar mais apurado a procura de algo que foi perdido), e mais e mais pessoas de todas partes em todos os lugares se movimentando e se locomovendo, e mais e mais propagandas dos malditos números e rostos entalado em algo que poderia servir a inúmeras coisas que não isso...



Tenho pensado muito sobre alguns assuntos referentes ao uso do espaço físico (seja ele público ou não, privado ou não), ao futuro de nossos espaços e direitos semi-naturais da existência - visto a quantidade de falta de qualidade de nosso candidatos à coisas que nem sabemos e nem procuramos entender o porque existem.




Realmente parece que ninguém está nem ai para essas eleições, que a copa foi algo mais
importante e sedia-la aqui no Brasil em 2014 vai ser mais importante do que definir quem será nosso governantes em suas mais variáveis escalas democráticas nos próximos 4 anos. Onde estão as bandeiras brasileiras penduradas, pintadas, balançando, dançando, que vimos alguns meses atrás? Provavelmente guardadas para receber novamente o cheiro de mofo, assim como nosso titulo eleitoral vai ser guardado daqui a uns dias.



Mas será que de certa forma esse descaso com um futuro próximo não seja uma conseqüência de um pensamento subconsciente da falta de proximidade e de escalas com as causas da sociedade em questão, onde na realidade o pensamento de uma nação se forma em prol de algo longínquo que roda dentro de uma economia global perdendo a forma da unidade física-sustentável local e da sociedade que teoricamente faz a roda girar, destruindo assim os laços físicos e criando no imaginário mental da massa falsas ideologias e metas a serem alcançados com todo o esforço, por vezes virtual, de seu suor não tão suado assim?

Acompanhei de leve esse mês de setembro as ações coletivas relacionadas a bicicleta na cidade de Curitiba, e quinta e segunda passadas fui em palestras sobre mobilidade urbana. Foi bom ver que pessoas interessadas e influentes estão se preocupando com isso e fazendo algo para que algo mude. Fiquei um tanto quanto chateado ao ver as salas praticamente vazias - com cerca de 10 ou 15 pessoas incluindo os próprios palestrastes e organizadores - ainda mais depois de saber que a marcha das 1001 bikes teve mais de 500 pessoas!!
Não sei se isso é um problema local/cultural de falta de divulgação mesclada com falta de interesse, sei apenas que ver tantas cabeças pensando na mesma coisa e se desentendendo só pode ser que algo está errado e confuso por ai.


Vou colocar um trecho de um livro que recomendo a todos que estudam arquitetura e urbanismo, direito, sociologia, antropologia, política, biologia e aos demais curiosos. Trata-se de um livro sobre lições básicas da arquitetura e de como sair da forma pré-estabelecida que nós é implantada na academia.
(Cada um sabe seu caminho e por onde está passando, mas todos sabem que para estagnar é cômodo e fácil)

Lições sobre arquitetura - pág 46

"Estes exemplos servem para ilustrar como as melhores intenções podem levar a desilusão e a indiferença. As coisas começam a dar errado quando as escolas se tornam grandes demais, quando a conservação e a administração de uma área comunitária não podem mais ser entregues àqueles que estão diretamente envolvidos e se torna necessária uma organização especial, com sua equipe especializada, com interesses e preocupações próprios quanto a sua continuidade e, possivelmente, a sua expansão. Quando se atinge o ponto em que a principal preocupação de uma organização é assegurar a continuidade de sua existência – independente dos objetos para as quais foi criada, ou seja, fazer pelos outros o que não se pode esperar que eles mesmos façam – neste momento a burocracia assume o controle. As regras pela qual os habitantes da cidade se tornam uma camisa-de-força de regulamentos. O sentido de responsabilidade pessoal perde-se numa burocracia sufocante de responsabilidade para com superiores. Embora não exista nada de errado com as intenções do elo individual nesta interminável cadeia de interdependências, elas se tornam virtualmente irrelevantes porque estão demasiado afastadas daqueles em cujo beneficio todo o sistema foi (criado) inventado. A razão pela qual os habitantes da cidade se tornam estranhos em seu próprio ambiente de vida é porque o potencial da iniciativa coletiva foi grosseiramente superestimado ou porque a participação e o envolvimento foram subestimados. Os moradores de uma casa não estão de fato preocupados com o espaço de fora de seus lares, mas também não podem ignorá-lo. Esta oposição conduz à alienação diante de seu ambiente e – na medida em que suas relações com os outros são influenciadas por ele – conduz também à alienação diante dos moradores vizinhos.

"O crescimento do nível de controle imposto de cima para baixo está tornando o mundo à nossa volta cada vez mais inexorável: e isso abre caminho para a agressividade que, por sua vez, conduz a um enrijecimento ainda maior da teia de regulamentos. O resultado é um circulo vicioso, a falta de comprometimento e o medo exagerado do caos alimentando-se mutuamente. A incrível destruição da propriedade pública, destruição que esta aumentando nas principais cidades do mundo, pode ser provavelmente imputada à alienação diante do ambiente de vida. O fato de que os abrigos de transporte público e os telefones públicos venham sendo, semana após semana, completamente destruídos é na verdade uma alarmante acusação à nossa sociedade como um todo. Quase tão alarmante, no entanto, é que essa tendência – e sua escala – é enfrentada como se fosse um mero problema de organização: por meio do expediente de reparos periódicos, como se tudo não passasse de uma questão rotineira de manutenção, e da aplicação de reforços-extras (“a prova de vândalos”). Desta maneira, s situação parece estar sendo aceita como “apenas mais uma dessas coisas”. Todo o sistema repressivo da ordem estabelecida é gerado para evitar conflitos, para proteger os membros individuais da comunidade das incursões de outros membros individuais da comunidade, sem o envolvimento direto doa mesma comunidade, sem o envolvimento direto dos indivíduos em questão. Isso explica por que há um medo profundo da desordem, do caos e do inesperado, e por que os regulamentos impessoais, “objetivos”, são sempre preferidos ao envolvimento pessoal. É como se tudo devesse ser regulamento e quantificável, de modo que permitisse um controle total e criasse as condições para o sistema repressivo da ordem nos torne locatários em vez de co-propietários, subordinados em vez de participantes. Assim, o próprio sistema cria a alienação e, embora afirme representar o povo, na verdade impede o desenvolvimento de condições que poderiam resultar num ambiente mais hospitaleiro."



Paro por aqui, e agradeço aos que tiveram paciência e inteligência de ler o texto, deixando um breve pensamento meu sobre o que andamos vivendo na contemporâniedade.

Vivemos em meu a um caos e a uma falta de humanização generalizada onde os meios que diminuem distancias afastam e recriam o natural de maneira não cíclica, cabendo a nós tentar aos poucos mudar isso recriando o senso de comunidade e sociedade física e mental com proximidade física sem deixar de criar laços com as distancias culturais, sem deixar de levar suas sementes para longe, mas sempre voltando e trabalhando e circulando e vivendo e se divertindo próximo a sua base, seu lar...seu tronco.

Unidade físicas de casas-cidade onde tudo funciona em pról de si e do próximo.




Parece complicado e utópico, mas quem sabe não devêssemos virar árvores?
Eu não sei.


2 comentários:

  1. Virar Árvores?
    Se tivéssemos como "sementes", mais pensamentos, assim como os seus,
    teriamos frontosas árvores, de raízes fortes, que dariam bons frutos...

    Espero que suas "sementes" caiam em solo fértil!

    Acredite! Eu precisava ter lido isso, hoje.

    Obrigado.

    ResponderExcluir
  2. as arvores são serer puros e repletos de energia. ainda não estamos no nível delas...


    beijo. amote

    ResponderExcluir